terça-feira, junho 16, 2009



MEMORIAL DE LEITURA



Descobri que a leitura é uma forma servil de sonhar. Se
tenho de sonhar porque próprios meus sonhos?
                                  Fernando Pessoa


         Situar-me no mundo da leitura e precisar exatamente como e quando ocorreu esse momento em minha vida é impossível pontuar. Não fui à pré-escola. Não, nesse tempo não havia, pelo menos na cidade em que nasci, que mais parecia a “Cidadezinha qualquer” de Carlos Drummond de Andrade.

         Minha primeira escola era quase que rural e a professora, a tia Soledade. Não era tia porque era professora, e sim de verdade. De sangue e de coração. Lembro-me do primeiro dia de aula. Escreveu a vogal “a” repetidas vezes na primeira linha do caderno para que eu fizesse o mesmo até onde marcara. Sentei-me e tentei desenhar a letra, mas não tive êxito, ela ficou virada que deixou - me muito perturbada e encobri com a mão. Foi constrangedor, pois era muito tímida. Não lembro como sai dessa situação, mas o certo é que aprendi ler sem muita dificuldade.

          Lá só estudava a 1ª Série. O exame final já tinha que ser feito em outra escola, o Grupo Escolar, onde os aprovados fariam as séries seguintes, ou melhor até a 4ª. Assim, dava-se por encerrada nossa vida escolar. Pois, só bem mais tarde, foi implantado o “Curso Ginasial” e algum tempo depois o “Curso Secundário”.

         Opções de leitura, zero. E, o livro didático era difícil. Para consegui-lo, alguém do comércio local pedia uma remessa e revendia, mas também eram escassos e nem sempre os encontravam. Quase tudo era passado no quadro-negro pela professora e quase nos acabávamos de tanto escrever. Algumas vezes ditava o conteúdo e o esforço era maior, pois era preciso acompanhar o tempo da professora, caso contrário, ficava sem a matéria.

       Vivi um bom período da minha infância com meus avós, porque nasci na casa deles e mesmo depois que meus pais construíram casa, fiquei com meus avós. Esse é um dado importante porque minha avó gostava de contar histórias, e isso fazia com prazer e sabedoria, todas as noites. Reprisava as histórias tantas vezes quanto, solicitadas. Não enjoávamos de ouvi-la sempre, sempre.

       A atitude da minha avó colaborou muito porque despertou o gosto pelas histórias, que na verdade suscitou o gosto pela leitura, pois onde mais encontraria novas histórias senão nos livros? E para conhecê-las, precisava lê-los.

        Desejo que só pude realizá-lo bem mais tarde, quando recomecei meus estudos e já estava casada e com filhos. Se bem que na adolescência li (escondido) alguns romances e fotonovelas, estas estavam no auge naquela época e desapareceu com o tempo.

        A oportunidade chegou mesmo, na faculdade. Foi neste período que conheci Maria Antonieta, Ângela Kleimmam, Ezequiel Teodoro, Ruth Rocha, Lygia Bojunga, Wanderlei Geraldi, entre outros tantos que dividiram comigo seus conhecimentos e suas experiências.

       Ajudaram-me crescer, possibilitando descobrir o novo, reformular conceitos, renovar conhecimentos, ver o mundo de forma diferente, abrir horizontes, acreditar que unindo forças é possível melhorar o mundo. Que não é crime ousar criando novas perspectivas de vida e de um mundo mais humano. Valorizando mais o que somos e menos o que temos.

       Dessa forma, pode até não ser intencional, mas todos passaram fazer parte da minha vida. E, é a eles que ainda recorro quando surge questionamentos em relação ao trabalho que realizo como educadora. Se bem que, para isso, também conto com a ajuda de pessoas que me cercam e lutam pelo mesmo ideal e estão sempre dispostas a colaborar e dividir conhecimentos.

       Na verdade não sei muito bem qual o significado da leitura em minha vida, o que realmente sei é que não fico muito tempo longe dela. É como fosse a extensão das necessidades vitais. Vale dizer que entre os livros que mais leio está a bíblia, nela encontro respostas para as mais variadas questões enfrentadas no cotidiano e é dela que retiro o alimento para o espírito e o refúgio nos momentos de adversidade.

12 Eu, o pregador, fui rei sobre Israel em Jerusalém.


13 E apliquei o meu coração a esquadrinhar,
e a informar-me com sabedoria de tudo
quanto sucede debaixo do céu; esta
 enfadonha ocupação deu Deus aos
filhos dos homens, para nela
os exercitar.


14 Atentei para todas as obras que se fazem
debaixo do sol, e eis que tudo era
vaidade e aflição de espírito.


15 Aquilo que é torto não se pode
endireitar; aquilo que falta
não se pode calcular.


16 Falei eu com o meu coração, dizendo:Eis que eu me
 engrandeci, e sobrepujei em sabedoria a todos os
que houve antes de mim em Jerusalém;e o meu
 coração contemplou abundantemente
a sabedoria e o conhecimento.


17 E apliquei o meu coração a conhecer
 a sabedoria e a conhecer os desvarios
e as loucuras, e vim a saber que
também isto era aflição
 de espírito.


18 Porque na muita sabedoria
 muito enfado; e o que aumenta
e conhecimento, aumenta
em dor.


Eclesiastes 1: 12-18
Image and video hosting by TinyPic